A primeira letra do alfabeto é também a primeira letra da palavra amor e se acha importantíssima por isso. Com A se escreve arrependimento que é uma inútil vontade de pedir ao tempo para voltar atrás e com A se dá o tipo de tchau mais triste que existe: adeus Ah, é com A que se faz abracadabra, palavra que se diz capaz de transformar sapo em príncipe ou vice - versa Com B se diz belo- que é tudo que faz os olhos pensarem ser coração; e se dá a benção, um sim que pretende dar sorte. Com C, calendário que é onde moram os dias e o carnaval, esta oportunidade praticamente obrigatória de ser feliz com data marcada. Civilizado é quem já aprendeu a cantar parabéns pra você e sabe o que é contrato: você isso, eu aquilo, com assinatura embaixo. Com D, se chega a dedução, o caminho entre o se e o então , Com D começa defeito, que é cada pedacinho que falta pra se chegar a perfeição e se pede desculpa, uma palavra que pretende ser beijo. E tem o E de efêmero, quando o eterno passa logo; de escuridão, que é o resto da noite, se alguém recortar as estrelas; e emoção, um tango que ainda não foi feito. E também tem eba! uma forma de agradecimento muito utilizada por quem ganhou um pirulito, por exemplo. F é para fantasia, qualquer tipo de já pensou se fosse assim?; fábula uma história que poderia ter acontecido de verdade, se a verdade fosse um pouco mais maluca; e fé que é toda certeza que dispensa provas. A sétima letra do alfabeto é G, que fica irritadíssima quando a confundem com J. G de grade, que serve para prender todo mundo - uns dentro, outros fora; G de goleiro, alguém que se pode botar a culpa do gol; G de gente: carne, osso, alma e sentimento, tudo isso ao mesmo tempo. Depois vem o H de história: quando todas as palavras do dicionário ficam à disposição de quem quiser contar qualquer coisa que tenha acontecido ou sido inventada. O I de idade, aquilo que você tem certeza que vai ganhar de aniversário, queira ou não queira. J de janela, por onde entra tudo que é lá fora e de jasmim, que tem a sorte de ser flor e ainda tem a graça de se chamar assim. L de lá, onde a gente fica pensando se está melhor ou pior do que aqui; de lágrima, sumo que sai pelos olhos quando se espreme um coração, e de loucura, coisa que quem não tem só pode ser completamente louco. M de madrugada, quando vivem os sonhos N de noiva moça que geralmente usa branco por fora e vermelho por dentro. O de óbvio não precisa explicar. P de pecado algo que os homens inventaram e então inventaram que foi Deus que inventou. Q, tudo que tem um não sei quê de não sei quê. E R de rebolar o que se tem que fazer pra chegar lá. S de sagrado tudo o que combina com uma cantada de Bach; de segredo, aquilo que você está louco pra contar; de sexo, quando o beijo é maior do que a boca. T é de talvez resposta pior do que não, uma vez que ainda deixa, meio bamba, uma esperança De tanto um muito que até ficou tonto de testemunha: quem, por sorte ou por azar, não estava em outro lugar. U de ui, ai que ainda é arrepio; de último, que anuncia o começo de outra coisa; e de único tudo que, pela facilidade de virar nenhum, pede cuidado. Vem o V, de vazio um termo injusto como a palavra nada; de volúvel, uma pessoa que ora quer o que quer, ora quer o que querem que ela queira. E chegamos ao X, uma incógnita X de xingamento que é uma palavra ou frase destinada a acabar com a alegria de alguém; e de xô única palavra do dicionário das aves traduzida para o português. Z é a última letra do alfabeto, que alcançou a glória quando foi usada pelo Zorro Z de zaga algo que serve para o goleiro não se sentir o único culpado; de zebra quando você esperava liso e veio listrado; de zíper fecho que precisa de um bom motivo para ser aberto; e de zureta, que é como a cabeça fica no final de um dicionário inteiro. |
Adriana Falcão |
sábado, 11 de junho de 2011
Mensagem Palavras ao vento
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